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Fernanda Figueiredo |
"Hoje, 22 de março, papai faria 100 anos. Falar de Francisco Figueiredo ou Chiquitinho, como era conhecido, é recordar seu espírito humanitário, a sua generosidade, o amor a sua terra, suas raízes e, sobretudo seu amor à vida. Certa vez, perguntei-lhe: Pai, qual o melhor lugar do mundo?Sem titubear, respondeu-me:-São João Batista.
Foi só uma provocação, supunha que essa seria a resposta. Fiquei a refletir sobre a resposta. Como o paraíso poderia ser um dos lugares mais pobres do estado? Imbuída desse sentimento que congrega a sociedade brasileira para acabar com a fome, é que posso entender melhor a sua importância e o seu compromisso com a sua região e sua gente. Esse sentimento de altruísmo, distante de muitos políticos, mas tão presente no nosso Presidente Lula, preocupado com a questão social, com os excluídos, faz-me reportar ao nosso velho e saudoso pai, que certamente, ele não foi um político só da razão, mas do coração.
Antes de escrever este artigo, fiz uma pesquisa na internet, no Google, um dos maiores sites de busca, e por curiosidade resolvi pesquisar o nome de papai. Qual não foi a surpresa. Lá estava Chiquitinho citado em artigo do deputado Neiva Moreira seu compadre e amigo. Sei que papai não teve intimidade com o computador, mas a tecnologia também quis homenageá-lo. O homem que desafiava adversidades, que levou para a região o primeiro caminhão, o primeiro trator e ainda, o avião, a televisão, abriu estradas, açudes, construiu campos de pouso, desbravou caminhos estava na internet!
Tenho a percepção da importância de Chiquitinho não pelo seu legado político, de ter sido pioneiro, mas, sobretudo, pelo sentimento de homem voltado para a sua aldeia, cujo nome não se perpetua em pontes, avenidas ou monumentos, mas na gratidão do seu povo e amigos. Gostaria de agradecer, em nome da família, a cada um dos que perpetuam sua memória. Escrevo com emoção e uma sensação muito forte que me faz lembrar Henry Thorreau: “Na política como em tudo na vida, o dia só amanhece para o qual estamos preparados”. E para Chiquitinho não havia tempo ruim, ao despertar com o canto do galo e chamar seus auxiliares de confiança para acompanhá-lo, já estava preparado para enfrentar o dia e as intempéries.
Para mim, o seu maior legado é o exemplo de integridade, de persistência, generosidade, na sua luta diária em prol da coletividade. Falam que papai não renovou os quadros da política. Na verdade de todos os filhos, apenas o meu irmão Luiz preferiu continuar o seu trabalho em São João Batista, lutando pelos seus ideais, mas somos todos políticos no exercício diário de nossa cidadania. A renovação que se permitiu foi delegar ao povo, assim como aos seus filhos, seu viés ideológico, cada filha ou cada eleitor tinha liberdade de escolher seu destino. Não “reclamou quando um anjo torto me falou: - Vai Fernanda, vai ser gauche na vida.”
Mas ele gostava mesmo era dos velhos caboclos, dos negros e oprimidos. Esse povo humilde que lhe outorgara vários mandatos era o mesmo que adentrava em seus aposentos e sentia-se em casa. É esse povo que perpetuará sua memória através de gerações. Ingressou na política em 1945, filho do Major Raimundo Marques Figueiredo, que tinha o hábito de distribuir comida aos pobres cada primeiro dia do ano. Praticou essa caridade durante 42 anos e não se tratava de uma política clientelista. Deixou em seu testamento bois para distribuir após sua morte.
Chiquitinho tornou-se Decano da Assembleia Legislativa do Maranhão, onde ocupou a vice-presidência e a presidência em algumas ocasiões. Eleito prefeito de São Vicente Ferrer e também de São João Batista, soube honrar como poucos quatro mandatos consecutivos como deputado estadual, conferidos pelos maranhenses. Pertenceu a uma safra de políticos que não esteve entre os donos do Poder, que não sucumbiu às suas benesses, que foi avesso a regalias, não ostentou poderio econômico, não deixou bens materiais como herança. Deixou sim, seu amor ao povo, a sua gente e a sua terra.
Alguém falou que homenagem de filho não vale. Na minha concepção é a que mais vale, principalmente pelo orgulho de dizer que foram poucos os que trataram seus semelhantes como verdadeiros filhos. E isso, Chiquitinho, fez com maestria. A ele, nossa Homenagem, nossos aplausos, nossa saudade...