12 de jan. de 2012

CASO FLAVIANO NETO: ESTÁ ACONTECENDO AGORA A ULTIMA AUDIÊNCIA

Catorze meses depois de iniciadas as investigações sobre o assassinato do quilombola Flaviano Pinto Neto, no município de São João Batista, a Justiça está próxima da conclusão do processo. Hoje ocorre a última audiência antes da decisão sobre o prosseguimento ou não das denúncias contra os quatro suspeitos apontados nas investigações policiais. Os indiciados poderão ser submetidos a júri por homicídio se as provas coletadas forem relevantes, ou até serem absolvidos em caso contrário.
Durante a manhã desta quinta-feira, o homem apontado como executor do homicídio, Irismar Pereira, participará da audiência no Fórum de São João Batista. Os moradores do povoado do Charco, do qual Flaviano era líder, prometeram marcar presença em frente ao Fórum como ocorreu na última terça-feira (10), quando os outros três indiciados estiveram no local. Como já foram ouvidos e apresentaram testemunhas, Josuel Sodré Sabóia, Manoel de Jesus Gomes e Antônio de Jesus Gomes não estarão presentes.
Na audiência do dia 10, o clima de tensão chegou a marcar momentos dentro e fora do Fórum. Logo na chegada do ex-militar Josuel Sabóia, o grupo de quilombolas se manifestou com bandeiras e frases cobrando justiça. Sabóia está preso desde o dia 2 de fevereiro do ano passado e é apontado como autor da emboscada para Flaviano. Ao deixar o Fórum, na viatura da Polícia Militar (PM), os quilombolas gritavam "assassino". 
A presença de Sabóia e dos outros dois fazendeiros suspeitos de serem os mandantes do crime foi solicitada para a apresentação de mais três testemunhas. Foram intimados a comparecer à audiência o comerciante João Robson Costa Carneiro, o lavrador Manoel Ferreira e o investigador da Polícia Civil Otton Bismarck. Os dois primeiros foram solicitados pela juíza Odete Maria Mota, e o policial, pela defesa de Manoel Gomes e Antônio Gomes.
O primeiro a depor foi João Robson, que já tinha sido convocado para uma audiência anterior, mas estava viajando e, por isso, não compareceu. Meses depois do assassinato de Flaviano, o comerciante prestou depoimento na delegacia porque foi flagrado em uma escuta telefônica comentando com a esposa que um homem conhecido como "Mocó" disse que recebeu proposta de Sabóia para matar o líder quilombola por R$ 10 mil.
Aparentando nervosismo e acompanhado de um advogado, o homem disse várias vezes que não estava acusando "Mocó", mas que o mesmo tinha falado em um bar sobre o recebimento da proposta. João Robson ainda chegou a participar, no mesmo dia, de uma acareação com "Mocó", identificado como José da Silva Chagas Pacheco, preso em novembro do ano passado na delegacia de São Vicente Férrer.
O comparecimento de José Pacheco à audiência foi solicitado pelo advogado de Sabóia, Cícero Medeiros, horas depois do depoimento do comerciante. Ao comparecer à audiência, o homem afirmou ter visto e cumprimentado João Robson em um bar, mas negou que tenha feito as declarações. "Eu estava jogando baralho e perdi uma mão apostada, fui ao banheiro e, quando passei por ele, ele me chamou. Eu só apertei a mão dele e voltei a jogar, ele estava bêbado", disse.
A acareação foi realizada e apesar dos exaustivos questionamentos para as duas partes, tanto João Robson quanto José Pacheco mantiveram os mesmos depoimentos. Contudo, o que mais chamou a atenção dos advogados das partes envolvidas no processo e também da juíza foi a declaração de "Mocó" ao ser questionado sobre o motivo de estar preso. O homem informou que apesar de estar encarcerado desde o ano passado e possuir um advogado não sabia por que tinha sido preso.
As declarações da segunda testemunha também despertaram a atenção dos presentes. O quilombola Flaviano Pinto Neto foi morto no barzinho de Manoel Ferreira, por volta das 19h, do dia 30 de outubro de 2010. Flaviano estava acompanhado de outra pessoa que teria atraído o lavrador para uma armadilha. Apesar de Manoel ter atendido a dupla e até entregue o troco para esta segunda pessoa, ele declarou não ter condições de reconhecê-la.
Manoel informou que o estabelecimento contava com poucas lâmpadas e que estava muito escuro para reconhecer alguém. Ele soube apenas precisar que era um homem e que o mesmo não bebeu, embora tenha pago a bebida de Flaviano, e que poucos minutos após a saída do mesmo uma pessoa entrou no bar e disparou tiros contra o líder da comunidade do Charco.
Com o encerramento dos depoimentos da última terça-feira (10), a juíza abriu o prazo de 10 dias para as alegações finais da defesa e acusação de Josuel Sabóia, Manoel Gomes e Antônio Gomes. O mesmo deve ocorrer com Irismar Pereira. Os quatro estão juntos no mesmo processo, mas devido à ausência de um advogado para Irismar no início das audiências, houve um desmembramento para evitar atrasos. O prazo para as alegações finais será contado a partir da data de recebimento do comunicado às partes.
A reportagem tentou contato com os advogados dos três acusados de envolvimento no crime que compareceram ao Fórum na terça-feira. Contudo, os advogados de Manoel e Antônio informaram que seria necessário outro momento para repassar de forma completa a defesa de seus clientes. Eles ressaltaram a inocência dos fazendeiros e que a disputa judicial pela posse da terra sempre foi marcada pela tranqüilidade entre as duas partes. O advogado de Sabóia preferiu não fazer declarações. Fonte: O Imparcial.

EQUIPE DE REDAÇÃO DA AGÊNCIA SJB